Editoria Comportamento

 

Prof. Lucio Lage responde sobre novos comportamentos humanos pós-pandemia.

 

Professor Lúcio Lage, Doutorando em Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ (Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pesquisador colaborador do Laboratório DELETE-Detox e uso consciente de tecnologias, especialista em novos comportamentos humanos, responde perguntas pertinentes à nova flexibilização da Pandemia, no Rio de Janeiro e Brasil.



Sem nenhuma surpresa, já havíamos sinalizado no nosso livro “A vida após o novo coronavírus: novos comportamentos”, lançado em 30/06/20 (www.barralivros.com), que as reações das pessoas ao isolamento social dependiam da cultura dos povos, das nações e/ou das regiões.

A cultura brasileira, em média, é da praia, do futebol, da escola de samba e do churrasco e tudo isto envolve aglomeração. Por seis meses, nosso cérebro ouviu: “vai passar”, “fique em casa que passa logo”, “é temporário” e se manteve em “modo provisório”. Com a flexibilização, somada a angústia do exílio domiciliar, o cérebro volta às condições de antes do isolamento e as pessoas tentam retirar o peso da falta de disciplina e experiência em situações de limitações de mobilidade. Os disciplinados orientais, principalmente os japoneses não estão procedendo assim.

Contida, talvez, não seja um bom termo para expressar a ação necessária. São necessárias ações de revisão dos protocolos e das liberações considerando as características culturais de cada país ou região. No caso brasileiro é preciso cautela, mesmo com uma perspectiva positiva de redução da presença do vírus, lembrando que isto não é uma certeza, mas sim perspectiva. Considerando o que se viu, nos últimos dias, é preciso sim discutir, rapidamente, formas de minimizar as aglomerações.

Informação segura e convincente de que qualquer liberação tem que ser gradativa e ampliada, a partir de avaliações seguras de possibilidades. Um exemplo interessante é a liberação parcial e controlada que está sendo feita em eventos esportivos, na Europa. No caso brasileiro o poder de convencimento terá que ser maior pela cultura indisciplinada e expansiva dos brasileiros.

Como meu campo de pesquisa é Comportamento Humano eu não posso opinar sobre a eficácia das vacinas em produção, embora todos saibamos do poder preventivo delas, se forem produzidas de forma segura, responsável e lícita. Talvez, nem os infectologistas e demais cientistas que se envolvem com este tema possam garantir um prazo até porque outras variáveis estão em jogo como comercialização, recursos financeiros, decisões governamentais e interesses internacionais. O tema “vacina” não pertence, exclusivamente, ao campo da Saúde.

As culturas mais expansivas e menos experientes com limitações, como nos mostra a história brasileira, teriam mesmo mais dificuldades de se manterem reclusas. Os europeus, muito experientes por outras pandemias, epidemias, endemias, guerras e conflitos territoriais, já estavam mais acostumados, culturalmente, ao isolamento. Por isto, já se previa que teriam mais adequações às regras protetivas.

 

Texto: Paula Maria.

Foto: Divulgação.